segunda-feira, 6 de agosto de 2012

CONCILIAR EDUCAÇÃO E LIBERDADE


CONCILIAR EDUCAÇÃO E LIBERDADE
Do diálogo entre dois médiuns, Chico [Xavier] e Ondina, temos para nós as imorredouras lições pedagógicas no campo da Doutrina Espírita:
Ondina — Chico, com relação à liberdade, como ficaria nossa posição ante nossos filhos, na criação deles, naquela parte da infância?
Chico — Se nós, para cada vinte por cento de ensinamento falado, dermos oitenta por cento de exemplo, nós resolvemos o problema.
Ondina — Nosso curso visa essencialmente a questão da exemplificação.
Chico — É o dever cumprido, não é? O dever cumprido nos dá o direito de escolher o melhor caminho.
Agora, dentro daquela trilha da obrigação cumprida, ninguém pode nos modificar. Porque, se você trabalha, se você serve, se você constrói, se a sua vida é útil, você deve esperar o respeito dos outros.
Psicologicamente, cada um de nós tem uma vida muito diferente. Nós somos seres semelhantes pelo corpo físico, mas psicologicamente somos criaturas em evolução. Diz a Bíblia: "Deus criou as criaturas à sua própria semelhança." Mas não falou que era na forma. Nós estamos caminhando para outras finalidades, outras formas de vida, como os animais estão a caminho para as formas de vida humana. Então nós estamos em trânsito. Agora, psicologicamente, nós somos o que aparentamos. Mas, se a pessoa trabalha e é util, ela deve exigir o respeito dos outros.
Ondina — Mesmo na parte da criação, então, a gente deve sempre fazer mais do que falar.
Chico — A criança é um problema muito curioso. Diz a psicologia moderna que nós devemos criar os nossos filhos sem trauma; não se pode dar uma palmada, não se pode repreender, não se pode falar coisa nenhuma, não se pode traçar um programa para a criança, não se pode disciplinar... Eu não sou adepto da palmatória e nem do chicote, mas sou amigo do diálogo e do muito amor para com a criança. Agora, sabendo que a criança está chegando de onde nós chegamos, das zonas umbralinas da espiritualidade, para reparar, para lutar, para trabalhar e para ter uma vida digna. Agora, se nós damos mesada para os meninos de dois anos e se vamos na rua discutir com os outros porque nós queremos defender nossa filha, nosso filho, e achamos que eles são melhores que os filhos dos vizinhos, o que é que nós estamos criando? Tudo isso a pretexto de não educar.
Alguém já viu educação sem esforço? Sem disciplina? Então eu vejo senhoras que trazem o jardim delas podado. Os ficus são maravilhosos! Elas fazem formas de anjos, de cores etc. As couves na horta são todas bem cuidadas. Mas quando chegam no filho, não. Não podem porque ele tem trauma. Depois mandam para os psicólogos. Vão tomar bastante tranquilizantes. Já cresce um menino ou uma menina complexados, com uma ideia falsa da liberdade, porque a liberdade tem um preço: o preço da liberdade é o dever cumprido. Não é só ser livre, porque os animais na selva também são livres. Todos os animais que não passaram pela domesticação são livres.
Agora, que liberdade é essa que eles estão preconizando? Uma liberdade para irmos para os tóxicos e acabarmos com a nossa vida? Liberdade para se suicidar? Liberdade para matar os outros? Liberdade para arrasar com a vida de nossos pais? Para arrasar com a vida de nossos filhos? Para bebermos cachaças até cairmos? É a liberdade que a maioria pede! Essa eu não conheço. Porque eu estou no cabresto desde que eu fiz quatro anos!
Ondina — Chico, diga mais alguma coisa aos nossos ouvintes do programa Hora Espírita Maria João de Deus.
Chico — Um abraço a todos os companheiros. E que me perdoem a inflexão de voz, que ficou parecendo carregada de ressentimentos, quando isso não acontece.
Ondina — Não, Chico, suas palavras foram valiosíssimas.
Chico — Apenas estou falando com veemência sobre assuntos que me trazem (esse me é empregado com muita vontade de ser substituído por nos). Mas, às sextas e sábados, eu ouço habitualmente, nas duas noites, quinhentas a oitocentas pessoas, quando não passam de mil, sendo que sessenta por cento nos trazem problemas perfeitamente evitáveis, se essas criaturas tivessem tido o cuidado de educarem seus filhos desde os primeiros meses de vida, conversando em Deus, em trabalho, ensinando o serviço. Quando cercam a criatura aos dezoito anos, ela já está perdida.
Isso é o problema da família. Agora, não tem nisso nada de sexo, não falei nada sobre sexo. Porque sexo é psicológico. Cada um tem o seu impulso, a sua vida. Aqueles que se casaram, comprometeram-se. São como pessoas que assinaram uma escritura. Eles têm também os seus deveres para com os seus companheiros ou suas companheiras. O sexo é psicológico. O sexo é mental. Agora, a pessoa trabalhando e se dispondo a cumprir os seus deveres, ela tem a sua vida sexual regularizada, com a aprovação de sua própria consciência. Porque o trabalho dá a essa criatura a liberdade condicionada ao dever cumprido, para que ela possa viver, porque o sexo não é só procriação. Quando a Escritura diz: "Crescei e multiplicai-vos", não é só do ponto de vista físico. Nós estamos preocupados, no mundo, bem como os governos estão preocupados com as milhões de pessoas que estão nascendo. E há hoje uma inclinação muito grande para o planejamento familiar.
"Crescei e multiplicai-vos", mas também nos valores espirituais; na enfermagem, no trabalho profissional, no gosto de trabalhar para servir, de servir mais, de servir horas extras.
Por exemplo, eu nunca vi uma pessoa que caminhou para o suicídio se oferecendo à prefeitura para trabalhar de picareta até morrer na rua! Querem suicídios calmos, venenos com que eles morram logo. Tiros, com que pensam em desaparecer. Mas não desaparecem, não. Agora, gente para se suicidar com picareta eu ainda não vi.
Ondina — Chico, Deus lhe pague!
Livro:  Chico Xavier – Fonte de Luz e Bênçãos
Urbano T. Vieira, Dirceu Abdala
Livraria Espírita Chico Xavier

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