Paulo R. Santos
O cristianismo que nos é apresentado pelas diversas religiões, crenças, seitas e crendices possui tantas disparidades de interpretações que, com certeza, não estão falando do mesmo cristianismo, aquele originário dos ensinamentos e exemplos de Jesus de Nazaré.
Para alguns, Jesus é filho de Deus, o que leva presumir que tem também mãe, sendo ele mesmo, um deus. Isso mais confunde que esclarece. Para outros, o Jesus histórico se resume àquele profeta, ou messias, contemporâneo de outros profetas e de revolucionários como Barrabás (Joshua bar Aba). Há politeísmo nessa visão, ou no mínimo monolatria, isto é, a supremacia de um deus sobre outros deuses e semideuses.
Outros se limitam a Joshua ben Joseph (Jesus, filho de José), carpinteiro filho de outro carpinteiro, cuja mãe se chamava Maria (ou Míriam), que tinha irmãos e irmãs consanguíneos (Marcos; 6-3). Para as ortodoxias ainda em vigor, isso consiste uma visão herética, já que para certos segmentos, Jesus é unigênito (o único gerado) e filho de uma virgem.
Eis que a confusão fica estabelecida quando se tenta, lá pelo século IV, quando da criação da Igreja Romana (Concílio de Nicéia, em 325), trazê-lo (Jesus de Nazaré) como sucedâneo dos deuses tidos como pagãos. Fato que tentava atrair para a nova crença os seguidores de outras religiões mais antigas. Jesus seria a versão latina do deus egípcio Horus ?
Com o passar dos séculos, pesquisadores procuravam apontar a data correta do nascimento de Jesus. Tarefa difícil já que os calendários usados naqueles tempos variavam conforme os povos. Convencionou-se o 25 de dezembro, segundo o calendário juliano.
Hoje, Jesus de Nazaré não se reconheceria nos cristãos da atualidade. Seus ensinos e exemplos foram esquecidos ou deturpados. Seu nome mais parece uma logomarca, e ele é – na prática – um ilustre esquecido no dia convencionado para a celebração de seu aniversário natalício e consequente reunião da família e troca de presentes, em memória dos poucos presentes que ganhou ao nascer , segundo reza a tradição.
Fato é que o ensinamento original de Jesus se perdeu em meio aos interesses humanos e mundanos. Quem pregou a paz, a simplicidade, a compaixão e a humildade estranharia a ostentação dos templos erguidos em seu nome. E ainda as muitas guerras originárias de interpretações parciais, tendenciosas ou claramente deturpadas para atender a interesses mesquinhos de pseudo-religiosos e falsos profetas, aos quais ele próprio se refere, conforme foi recolhido por Mateus, e descrito no capítulo 24 de seu Evangelho.
O Sermão do Monte e sua síntese doutrinária (Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo) talvez sejam pálidos reflexos de seu pensamento original. O resto corre por conta dos seus interpretadores.
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